Algumas coisas que acontecem na sua carreira são garimpadas. Outras lhe chegam de presente. Na semana passada, uma dessas coisas me chegou de presente. Foi a cobertura da histórica transmissão ao vivo através do site cidadeverde.com do debate entre Sílvio Mendes e Wilson Martins. Certo de que vivia um momento importante do jornalismo no Piauí, me preparei para a cobertura.
Entre as atividades previstas no trabalho estava uma entrada ao vivo no programa do Amadeu Campos (grande apresentador e um amigo que tenho descoberto).
Para quem não é repórter vale um parágrafo em separado aqui. “Ao vivo” muitas vezes é sinônimo de tremor das pernas, branco no raciocínio e derrocada para muita gente. Eu diria que sou o cenário perfeito para o esses “microfracassos”: pouca experiência e facilmente intimidado por pessoas de maior personalidade. Principalmente se você leva em conta como foi a minha entrada ao vivo. Eu estava em pé posicionado de terno e gravata entre duas personalidades fortíssimas: Silvio Mendes e Wilson Martins. Aquele repórter de pouca bagagem era talvez tão frágil quanto uma barragem de areia frente ao tsunami; e rede de tênis entre Guga e Magnus Norman; ou o piloto retardatário que, desavisado, impede a disputa de Prost e Senna.
Eles têm de política mais do que eu de vida. Creio que a amizade entre eles também seja longa. Essa amizade, que pelo me consta já dura quarenta anos, parece em alguns momentos ser ameaçada pela troca de farpas aparentemente duríssima. Mas enquanto estive entre eles dois me preparando para a entrada ao vivo, testemunhei como se dá essa troca de farpas enquanto as câmeras estão desligadas. De fato, eles batem duro um no outro. Muito provavelmente eles se provoquem como Nilton Santos provocaria Pelé no clássico Santos e Botafogo dos anos 1960. Pude perceber, porém, que quando o jogo terminar e alguém se consagrar vencedor, o derrotado reconhecerá a vitória do outro. O vencedor saberá levantar o adversário temporariamente caído e os dois se renderão ao abraço que certamente tempera essa amizade de quarenta anos.
Senti naquele dia a possibilidade de, por acidente, participar um pouco da intimidade desses dois adversários preparadíssimos. Pude sentir também que, mesmo com as provocações, havia entre eles o mesmo respeito que Nilton Santos sentia por Pelé, onde cada cutucada era cercada por risadas sincera e um desejo no fundo do peito de que essa partida termine logo para que a amizade continue e o respeito volte com os dois para casa.
Não quero com isso dizer que o que se vê pela imprensa é uma farsa entre os dois. Ao contrário. Tesmunho que a disputa entre eles é acirrada. Sinto que eles têm consciência que as circunstâncias os colocam em posições contrárias; que eles tem responsabilidades com os projetos que eles representam e que defederão esses projetos com o fervor e a responsabilidade que sempre demonstraram em suas profissões e vida pública. Mas que no fundo se admiram e se respeitam.
sábado, 14 de agosto de 2010
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É no mínimo reconfortante, ler e saber tudo que o senti um jornalista tão excepcional como você Joelson. Quase não acreditei ao ler: “ ‘Ao vivo’ muitas vezes é sinônimo de tremor das pernas, branco no raciocínio e derrocada para muita gente. Eu diria que sou o cenário perfeito para o esses ‘microfracassos’: pouca experiência e facilmente intimidado por pessoas de maior personalidade.”
ResponderExcluirPensei ser um sentimento comum apenas entre os que me cercam: estudantes de jornalismo! Dentro da universidade, agente olha para vocês EXEMPLOS de bons jornalistas no Piauí, e vemos como é possível melhorar a qualidade do jornalismo e dos programas de TV daqui.
E saber um pouquinho do que você pensa minutos antes do “ao vivo”, motiva ainda mais esses focas, que buscam sentir um pouco disso através de algum estágio. Imagina como é para um estagiário de 4º período, fazer perguntas ao governado do Estado e tentar entender um pouco dessa complicada política que sabemos apenas através de livros, mas não vivemos. Os ‘microfracassos’ são três vezes maior para nós. Mas buscamos ser como vocês !