Imagine você chegando a um restaurante sonhando em comer filé a parmegiana. Senta-se à mesa e chama o garçom:
- Por favor, um filé a parmegiana.
- Agora, impossível! – diz o garçom.
- Como assim?
- Desculpe é que estamos às oito da noite. Hora de servir batatas fritas com ovos.
Aí você se vira e vê que todos na mesa estão comendo a tal batata frita com ovos. E você protesta:
-Não vou comer batata frita com ovos! Quero filé a parmegiana!
- Tudo bem, mas vai demorar. Antes vamos servir batata frita com ovos, depois macarronada, filé ao molho madeira e só depois filé a parmegiana. Uma hora para cada prato e depois vem o que você deseja.
-O que você me sugere então?
- volte à meia-noite! Será a hora de servir o filé a parmegiana que você tanto aprecia.
Percebendo que é isso ou o prato indesejado, você levanta e vai embora. É exatamente assim que se dá o consumo da televisão no Brasil e no mundo. Você não escolhe o que quer na hora que deseja. Está sujeito a uma grade de programação que vai colocando na sua televisão coisas que você não quer ver. Não adianta querer assistir “De Frente com Gabi” agora. O filé só sai depois do “Programa do Ratinho”. Se quiser, volte mais tarde.
Isso promete mudar em breve. A portabilidade e a praticidade tecnológica pode nos tornar de tal maneira exigentes que a TV terá que nos oferecer outro tipo e serviço. Escolheremos o que ver na hora que nós quisermos. Antes, com o rádio, éramos obrigados a ouvir as músicas que eles nos davam. Hoje montamos nosso meu playlist no MP3 player.
Não é profecia. Isso é plausível. Você vai assistir o “Programa do Jô” quando você quiser e onde desejar. Seu tablet, celular ou aparelho que ainda virá estará pronto para baixar seu programa favorito três horas antes do horário em que hoje é exibido. O “Altas Horas”, a qualquer hora. A TV será como um restaurante: o que quero, quando quero.
Aí vem o outro lado do processo de libertação da grade de programação que aprisiona oexpectador: como nós comunicadores, no Brasil e no Piauí, estamos cuidando da qualidade do que produzimos? Se você quer ter seu programa consumido, cuide do conteúdo. Pratos no cardápio só “saem” se tiverem sabor. O seu programa só será assistido se tiver o que mostrar, se for atraente. Muitos programas de televisão registram bons pontos no Ibope atualmente não porque sejam bons, mas porque estão colocados na grade entre dois programas de boa audiência. Entre duas novelas, por exemplo. Os números são maquiados. Mas se você pudesse escolher, não esperaria o fim do programa encravado entre suas novelas. Simplesmente deletava do seu playlist e pronto!
Essa mudança, claro, não será instantânea. Mas não pense que não será rápida. A TV digital e a portabilidade aceleraram nossas demandas, nos tornaram impacientes. Queremos e queremos logo. O problema será dos jornalistas e produtores em TV que terão que melhorar seu conteúdo. Nós estamos nos preocupando com isso? Quando a mudança acontecer não tenha a menor dúvida vou encher o peito e dizer: “quero o meu filé agora!”
domingo, 8 de janeiro de 2012
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